O
ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou nesta quarta-feira (31), no Rio de
Janeiro, que o sistema de segurança pública no país está falido. Segundo ele, a
situação chegou a tal ponto que facções estão no comando de ações criminosas
praticadas por quadrilhas organizadas de dentro das penitenciárias. Jungmann
participou de evento promovido pela Polícia Militar do Rio de Janeiro e o Viva
Rio, na sede da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro).
"Este sistema vigente está falido, e o que
estamos vivendo hoje é o feito, não apenas da falência, do desenho deste
sistema, mas o feito de muitas outras razões. O crime se nacionalizou. Mais que
isso, se transnacionalizou. Então, não é no espaço da unidade da federação que
vamos resolver o problema da grande criminalidade", disse o ministro.
Jungmann
ressaltou o fato de que, na Constituição de 1988, entre 80% a 85% das
responsabilidade com segurança e ordem pública foram transferidas para os
Estados, restando ao governo federal apenas o controle das polícias Federal e
Rodoviária Federal, que ficam encarregadas do controle das fronteiras e das
ações contra crimes transnacionais e o tráfico de drogas.
"Há,
sim, a influência da crise neste processo, da falta de recursos para serem
canalizados para a segurança pública. E, também, porque não temos um fluxo
estável de recursos orçamentários e financeiros para a área de segurança. O
país passa por uma das maiores crises dos últimos 50 anos em termos econômicos
e fiscais e a segurança pública mergulha com o país nesta crise",
acrescentou.
Superlotação nos presídios
O
ministro destacou a crise enfrentada pelo sistema penitenciário, com
superlotações de presídios e presos mantidos em situações adversas, como
determinante para a falência do sistema e o avanço da criminalidade no país.
"Em
razão da incapacidade do Judiciário de julgar os processos, o sistema
penitenciário brasileiro tem 30% a 40% dos presos provisórios e temporários em
suas celas. Ninguém sabe hoje, de fato, qual é o tamanho da população
carcerária do país. E quem acha que sabe está enganado."
Segundo
Jugnmann, foi nestes espaços que surgiram as grandes gangues: o PCC, o Comando
Vermelho, Amigos dos Amigos, Sindicato do Crime, Terceiro Comando, Família do
Norte. "Todos estes grupos criminosos, que surgiram dentro do sistema
penitenciário e a partir do sistema penitenciário, controlam o crime nas
cidades. Determinam ações criminosas e aterrorizam a população."
"Hoje,
estes grandes grupos criminosos já têm a distribuição do consumo de droga no
Brasil e agora estão buscando o controle da produção. Veja o exemplo do Nem [o
traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes]. Nem está preso a 5 mil km do Rio,
em um presídio de segurança máxima de Rondônia, e ainda assim, é capaz de
declarar uma guerra na Rocinha, e levar o governo federal a convocar as Forças
Armadas para tentar apaziguar o local."
Outra
razão da falência do sistema de segurança pública, segundo o ministro, é a
impossibilidade de o governo federal não ter mandato sobre a situação dos
Estados, "apenas em situações extraordinárias, quando falecem as condições
de controle por parte da ordem pública, há um pedido dos governadores, e as
Forças Armadas são chamadas a interferir a pedido do governador, o que não
deveria acontecer", disse o ministro.
Do Uol
Notícias - Por - Nielmar de Oliveira - Repórter da Agência Brasil
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