(Foto: Studio Woody) |
Eterna vice-Miss Bumbum. É assim que
Andressa Urach, de 27 anos, se apresenta no Twitter. Ela ficou em segundo lugar
no concurso em 2012 e, desde então, agarrou e criou vários tipos de
oportunidade para se tornar famosa. Cuspiu na cara de outro participante num
reality show. Apareceu em Campinas, São Paulo, com os seios de fora, no início
da Copa do Mundo, à espera do jogador português Cristiano Ronaldo, com quem diz
ter passado uma noite. Nas últimas semanas, ganhou notoriedade adicional, por
um motivo muito mais sério do que esperava. No fim da semana passada, Andressa
começava a se recobrar do período em que ficou internada na Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) do Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre. Ela
sofreu uma infecção generalizada, após uma cirurgia para retirada, de suas
coxas, de dois produtos preenchedores. A Polícia Civil investiga o caso.
Em 2009, ela decidiu injetar uma
substância conhecida como hidrogel nas duas coxas. O produto é um gel
preenchedor, usado em pequenas áreas com irregularidades na pele, como rugas ou
celulite. Se for aplicado corretamente e em pequenas doses, tende a ser
eliminado pelo organismo com o passar do tempo, argumentam seus defensores.
Cria, porém, alto risco de inflamação e de infecção. “O hidrogel não é um dos
produtos mais recomendados, por ter muitos efeitos colaterais”, diz a médica
Denise Steiner, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). A
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica reforça a crítica. Em novembro,
alertou que não recomenda o uso do hidrogel por motivos puramente estéticos.
Informou que não há estudos conclusivos sobre seus efeitos de longo prazo.
Denise lembra também que procedimentos invasivos, como aplicação de
preenchedores, devem ser feitos por um médico. O profissional precisa conhecer
bem a anatomia humana, estudar o histórico de saúde do paciente e ter
treinamento para lidar com emergências, que podem ocorrer em qualquer cirurgia.
Andressa submeteu-se a um procedimento
que ignorou os alertas das sociedades médicas. Para piorar, envolveu volume de
hidrogel muito acima do razoável. Mesmo os profissionais que admitem usá-lo não
deveriam injetar nos pacientes, por cirurgia, mais de 3 mililitros no rosto,
nem mais de 50 mililitros no resto do corpo.
Andressa recebeu 400 mililitros em cada coxa.
Cinco anos depois das injeções, em julho
deste ano, ela começou a sentir sinais de rejeição de seu organismo.
Submeteu-se a uma primeira cirurgia de lipoaspiração para retirar o hidrogel.
“Se pudesse voltar no tempo, nunca teria colocado isso. Confesso que fiquei com
muito medo de uma infecção”, disse Andressa. Sua coxa esquerda estava marcada
com uma extensa marca roxa e nódulos. Ela não contou ao cirurgião responsável
pela lipoaspiração, Julio Vedovato, que passara também por aplicações de PMMA,
outro produto preenchedor. Diferentemente do hidrogel, o PMMA é permanente.
De acordo com Denise, da SBD, uma
aplicação de grande quantidade de um único preenchedor já representa alto
risco. O uso de duas substâncias preenchedoras pode mais facilmente provocar
uma infecção.
Na primeira lipoaspiração, constatou-se
que o PMMA na coxa esquerda de Andressa provocava a morte de seu tecido
muscular. A substância e o tecido morto, grudados, levavam ao quadro de dor e
infecção. Em novembro, Andressa se submeteu a uma segunda cirurgia, para
retirar hidrogel da coxa esquerda. Dias depois, reclamava de aumento das dores.
Vedovato usou um dreno para continuar a retirar os preenchedores. No final
daquela mesma semana, em 28 de novembro, Andressa foi internada no Hospital
Nossa Senhora da Conceição, com um quadro suave de infecção sanguínea. Foi
sedada e passou a respirar com a ajuda de aparelhos. Os médicos conseguiram
tornar seu quadro estável, e o hospital desmentiu um boato de que ela corria o
risco de perder uma perna. No final da semana passada, os aparelhos foram
retirados, e Andressa começava a acordar.
Ela se colocou numa situação de extremo
risco por uma conjunção de motivos banais e atuação negligente (na melhor das
hipóteses) de profissionais de saúde ou estética. Pode-se questionar o padrão
de beleza buscado pela ex-vice-Miss Bumbum e sua estratégia para ganhar
dinheiro. Mas ela estava em seu direito, ao pensar em cirurgias plásticas como
um investimento capaz de trazer retorno financeiro. Cabe aos profissionais de
saúde e estética alertar seus clientes sobre os procedimentos razoáveis e os
riscos envolvidos.
Fonte: Época
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