Morreu na tarde desta
quarta-feira 23/07/14 o escritor e dramaturgo paraibano Ariano Suassuna. Ele estava
internado no Real Hospital Português, em Recife, desde a segunda-feira (21),
quando sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico. Após a realização
de um procedimento cirúrgico, Ariano Suassuna entrou em estado de coma. Esta
foi a terceira internação do escritor em um ano. Ariano Suassuna sofreu uma
parada cardíaca por volta das 17h40 desta quarta-feira.
O velório do escritor
deve ser realizado no Palácio do Campo das Princesas, em Pernambuco. De lá, o
corpo do paraibano segue para cortejo em carro do Corpo de Bombeiros até o
Cemitério Morada da Paz, onde será sepultado.
A última vez que
Ariano Suassuna apareceu em público foi na sexta-feira (18). Ele concedeu uma
aula-espetáculo no Festival de Inverno de Garanhuns, município localizado no
Agreste pernambucano, a 228 km da capital Recife. No sábado (19), ele tirou
fotos com fãs que participavam do evento.
Biografia
Considerado um dos
maiores escritores paraibanos de todos os tempos, Ariano Suassuna era filho do
ex-governador João Suassuna. Um contador nato de histórias. E uma delas, que
mais gostava de contar, era de que foi a única criança que circulou nua pelos
corredores do Palácio da Redenção. Ariano nasceu dentro da sede do Governo do
Estado da Paraíba.
Desse fato, derivou
outra história. Ariano contava que, já adulto e escritor renomado, iria
participar de uma solenidade no Palácio da Redenção numa época onde os homens
só tinham acesso ao local vestidos de paletó e gravata. Desavisados, Ariano não
estava de terno e foi barrado. E reagiu com bom humor, lembrando ao soldado da
PM que fazia a guarda nos portões do Palácio: “Amigo, fique sabendo que eu já
andei nu aí dentro”.
Ariano Vilar Suassuna
nasceu em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa (PB), em 16 de junho de
1927, filho de Cássia Villar e João Suassuna. No ano seguinte, seu pai deixa o
governo da Paraíba e a família passa a morar no sertão, na Fazenda Acauã.
Com a Revolução de
30, seu pai foi assassinado por motivos políticos no Rio de Janeiro e a família
mudou-se para Taperoá, onde morou de 1933 a 1937. Nessa cidade, Ariano fez seus
primeiros estudos e assistiu pela primeira vez a uma peça de mamulengos e a um
desafio de viola, cujo caráter de “improvisação” seria uma das marcas
registradas também da sua produção teatral.
A partir de 1942
passou a viver no Recife, onde terminou, em 1945, os estudos secundários no
Ginásio Pernambucano e no Colégio Osvaldo Cruz. No ano seguinte iniciou a
Faculdade de Direito, onde conheceu Hermilo Borba Filho. E, junto com ele,
fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947, escreveu sua primeira
peça, ‘Uma Mulher Vestida de Sol’. Em 1948, sua peça ‘Cantam as Harpas de Sião’
(ou ‘O Desertor de Princesa’) foi montada pelo Teatro do Estudante de
Pernambuco. Os ‘Homens de Barro’ foi montada no ano seguinte.
Entre 1951 e 1952,
volta a Sousa, para curar-se de uma doença pulmonar. Lá escreveu e montou
Torturas de um coração. Em 1955, Auto da Compadecida o projetou em todo o país.
Em 1962, o crítico teatral Sábato Magaldi diria que a peça é "o texto mais
popular do moderno teatro brasileiro". Sua obra mais conhecida, já foi montada
exaustivamente por grupos de todo o país, além de ter sido adaptada para a
televisão e para o cinema.
Em seguida, retorna a
Recife, onde, até 1956, dedica-se à advocacia e ao teatro. Abandonou a
advocacia para tornar-se professor de Estética na Universidade Federal de
Pernambuco. No ano seguinte foi encenada a sua peça ‘O Casamento Suspeitoso’,
em São Paulo, pela Cia. Sérgio Cardoso, e ‘O Santo e a Porca’; em 1958, foi
encenada a sua peça ‘O Homem da Vaca’ e o ‘Poder da Fortuna’; em 1959, ‘A Pena
e a Lei’, premiada dez anos depois no Festival Latino-Americano de Teatro.
Em 1959, em companhia
de Hermilo Borba Filho, fundou o Teatro Popular do Nordeste, que montou em
seguida a ‘Farsa da Boa Preguiça’ (1960) e ‘A Caseira e a Catarina’ (1962). No
início dos anos 60, interrompeu sua bem-sucedida carreira de dramaturgo para
dedicar-se às aulas de Estética na UFPE. Ali, em 1976, defende a tese de
livre-docência ‘A Onça Castanha’ e a ‘Ilha Brasil: Uma Reflexão sobre a Cultura
Brasileira’. Aposenta-se como professor em 1994.
Membro fundador do
Conselho Federal de Cultura (1967); nomeado, pelo Reitor Murilo Guimarães,
diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPE (1969). Ligado diretamente
à cultura, iniciou em 1970, em Recife, o ‘Movimento Armorial’, interessado no
desenvolvimento e no conhecimento das formas de expressão populares
tradicionais. Convocou nomes expressivos da música para procurarem uma música
erudita nordestina que viesse juntar-se ao movimento, lançado em Recife, em 18
de outubro de 1970, com o concerto ‘Três Séculos de Música Nordestina – do
Barroco ao Armorial’ e com uma exposição de gravura, pintura e escultura.
Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, no Governo Miguel Arraes
(1994-1998).
Entre 1958-79,
dedicou-se também à prosa de ficção, publicando o ‘Romance d’A Pedra do Reino’
e o ‘Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta’ (1971) e ‘História d’O Rei Degolado nas
Caatingas do Sertão’/’Ao Sol da Onça Caetana’ (1976), classificados por ele de
“romance armorial-popular brasileiro”.
Ariano Suassuna
construiu em São José do Belmonte (PE), onde ocorre a cavalgada inspirada no
‘Romance d’A Pedra do Reino’, um santuário ao ar livre, constituído de 16
esculturas de pedra, com 3,50 m de altura cada, dispostas em círculo,
representando o sagrado e o profano. As três primeiras são imagens de Jesus
Cristo, Nossa Senhora e São José, o padroeiro do município.
Em 2000, ele passou a
integrar a lista de membros da Academia Paraibana de Letras e recebeu o título
de Doutor Honoris Causa da Faculdade Federal do Rio Grande do Norte.
Em 2004, com o apoio
da ABL, a Trinca Filmes produziu um documentário intitulado ‘O Sertão: Mundo de
Ariano Suassuna’, dirigido por Douglas Machado e que foi exibido na Sala José
de Alencar.
Ariano Suassuna, um
dos maiores escritores do país, dizia sempre: "Você pode escrever sem
erros ortográficos, mas ainda escrevendo com uma linguagem coloquial."
Fonte: Portal Correio/PB
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