
Andar ao lado de Raimundo Fagner em
Fortaleza é quase um teste de paciência. Não, o cantor não tem nenhum problema
com a cidade. Pelo contrário. A cada esquina que passa, é um pedido de foto, um
cumprimento, uma pergunta, outra saudação, um abraço. O músico, com paciência,
atende a todos, como se conhecesse os fãs há tempos. Ouve cada frase e aviso de
que um parente é seu fã com um sorriso no rosto.
Na última semana, a reportagem do UOL
Esporte caminhou com ele em direção a um evento de inauguração de um campo
sintético da cidade. Fagner foi por vontade própria bisbilhotar o que
acontecia. Ficou por alguns minutos como um observador na rua. Até que foi
reconhecido e virou atração. Não deu outra: o prefeito o chamou para o palanque
e a organização o fez sair na foto de inauguração do estádio. Até bateu pênalti
e fez um gol antes do primeiro jogo oficial. Só então deixarem que ele fosse
embora.
Ele é um dos principais nomes mais
famosos da capital cearense. É uma figura importante da música brasileira. E fã
incondicional de futebol: ficou até concentrado com a seleção em 1982. Por tudo
isso, recebeu convite para ser uma das atrações da Fan Fest, a festa oficial da
Fifa em parceria com a Globo, que acontece nas cidades sedes. Aceitou? Não. O
cantor preferiu fazer seus shows nas tradicionais festas de São João pelo
Nordeste.
"Fui convidado para fazer as Fan
Fests e desde o começo recusei. Até porque não gosto de cantar em Copa. E a
produção, da Fifa com a TV Globo, acha que o artista está se sentindo muito bem
em estar ali, tem até que pagar para estar ali. Achei meio ridículo. As
condições que ofereceram, desde novembro, é como se a gente que estivesse
querendo ir. Não é esse meu caso. Recusei convite da Fifa, da TV Globo, do
governo do estado, da prefeitura. Não quis fazer. Pra mim não é essa
visibilidade. Não achei a oferta legal e tem muita gente precisando aparecer.
Não me interessei em fazer", falou o cantor, em entrevista ao UOL Esporte.
Fagner não detalhou o valor da proposta
que recebeu, mas disse que nem levou a sério o que ouviu. Pesou, também, o fato
de não querer estar atrelado aos meios oficiais da Copa para poder opinar com
liberdade. "A proposta que veio eu deletei. Eles é que devem ter interesse
em me ter aqui, mas a proposta foi o contrário. E outra: não quero trabalhar
dentro desse espírito da Copa. Estou também preocupado com o que pode
acontecer. Na Copa das Confederações, fiz um show e veio uma ordem dos
movimentos sociais pra não chegarem perto de mim, que não me incomodassem. Não
quero passar por essa experiência de movimentos… Não quis estar envolvido. Não
foi só pela proposta, que achei desrespeitosa. Agora, também não quis estar
aliado e estar trabalhando em eventos da Copa", explicou.
"A maioria quer saber o que acho.
Não quero estar dentro dessa célula e estar envolvido nesse projeto. E as
festas de São João sempre fizeram parte da minha agenda. Tenho minhas dúvidas
sobre o que vai acontecer nesses eventos (da Copa). Não quis ficar com
instabilidade emocional e com preocupação em shows. Quero estar livre pra falar
o que acho, mesmo torcendo pra dar tudo certo. Não tenho que ir atrás deles. E
achei desrespeitoso acharem que é o artista que tem que participar. É uma
tremenda roubada. O que é Fan Fest? Não sei o que é isso. Quem é Fan Fest da
Fifa?".
A Fan Fest teve seu primeiro evento no Brasil realizado
na noite do último domingo, com o cantor Bell Marques como grande atração. A
festa oficial da Copa do Mundo é organizada pela Fifa, com as cidades sedes
custeando a infraestrutura. A Globo é a incumbida pela produção artística dos
shows.
Fagner disse que, se puder e a agenda
permitir, assistirá a algum jogo in loco pela sua paixão pelo futebol. Ele diz
que o clima no país é instável justo no momento que se realiza a Copa do Mundo
e deseja que quem protestar faça isso de uma maneira positiva.
"Foi uma infeliz coincidência de
ter a Copa do Mundo em um momento eleitoral e que o país passa dificuldades,
todos cobrando muito com manifestações. Ninguém sabe como serão, só que elas
virão. E espero que elas tenham pouca interferência dentro do futebol. A
coincidência dos dois eventos foi ruim, mas acho que a maioria dos brasileiros
vai se envolver com a Copa. Eu gostaria que os manifestantes fizessem uma
grande passeata cívica. É uma utopia, mas algo que lembrasse caras pintadas, Diretas
Já, que protestassem contra a corrupção ou pelas deficiências que o povo sente.
Vou sonhar que a Copa e os movimentos sociais encontrem seus caminhos, não que
se colidam".
"Você não pode nem extrapolar sua
alegria se gostar da Copa, fica com medo. Com o futebol sim, fico feliz. Mas
quem quer uma coisa mais social não vai deixar passar. Mas quem gosta do
futebol… É uma coisa muito bonita, uma grande empolgação. Aqui vai ser palco do
mundo inteiro e queria que procurassem uma maneira criativa de mostrar a
insatisfação e o que não funciona aqui. Porque a violência não vai levar pra
lugar nenhum. O Brasil tem exemplos e que seja criativo pra reivindicações
sejam vistas e positivas. Que os movimentos sociais se inspirem na nossa
criatividade para verem que o Brasil precisa de socorro", continuou.
Copa
de 82
Fagner fez parte da concentração do
histórico time brasileiro que jogou a Copa de 1982, na Espanha, por sua amizade
com Zico, Sócrates e outros jogadores. Foi até chamado pelo técnico Telê
Santana para participar de um rachão de dois toques um dia.
Lembra, como se fosse um jogador do
elenco, da frustração que a derrota para a Itália causou naquele grupo.
"Eu vivi o trauma, junto com eles, de não ganhar. O Brasil desembarcou lá
com muita alegria. Eu estava no estádio quando perdemos pra Itália. No dia
seguinte eu tinha um jogo dos artistas, eu era capitão, e nem consegui jogar.
Eu estava dentro daquele grupo e vivi aquela tragédia", relembrou.
Para a Copa de 2014, Fagner diz ter
muita confiança no time brasileiro. "Confio muito no time pra que conduzam
o futebol e empolguem a população. Acho que pra todos os times fortes, o
favorito é o Brasil. Temos grandes jogadores de meio-campo. No ataque
poderíamos ter o Luis Fabiano, um cara guerreiro, é marrento. Lá na frente tem
que ter marrento. Sabemos que o Fred resolve na hora H, mas está fisicamente
mal. O Oscar é bom, esse menino Willian também. Além do Neymar, grande
esperança, e o Hulk, que pode ser o Jairzinho de 1970. É uma máquina de jogar
bola. O time está entrosado."
Uol/ UolEsportes
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